FEIURA COMOVENTE

Agosto 2025

Feiura Comovente é um filme-poesia que transita entre a dor e a espiritualidade para narrar um rito de amadurecimento. Anjo, um homem trans à beira dos 30 anos, encontra-se em um limiar entre infância e vida adulta, preso a uma maternidade espectral que o assombra. A Pessoa de Balaclava, presença projetiva de sua dor e desejo, o acompanha nesse percurso, onde símbolos religiosos e a suspensão corporal atravessam o corpo como oferenda e sacrifício.

O primeiro objetivo de Feiura Comovente é construir uma narrativa sensorial e imagética sobre transformação e passagem, utilizando a transgeneridade não como tema central, mas como um elemento intrínseco à experiência humana. A maternidade aqui não é apenas uma relação biológica, mas um campo de significado, entre o sagrado e a carne que sangra, entre fé e ferida.

Este filme surge da necessidade de expandir as possibilidades de representação de pessoas trans no cinema, afastando-se do olhar pedagógico ou documental e adentrando a potência da linguagem poética e experimental. Em um contexto em que o cinema brasileiro ainda marginaliza o corpo trans e rejeita o experimentalismo, Feiura Comovente reivindica um espaço onde ambas as dimensões coexistem. Assim como o Cinema Novo e o Cinema Marginal quebraram estruturas narrativas para expandir a linguagem cinematográfica, este filme se propõe a tensionar as convenções do cinema contemporâneo, inserindo corpos trans em narrativas universais sem reduzi-los a discursos identitários ou de militância.Inspirado na potência das artes visuais e na experimentação cênica, Feiura Comovente atravessa tempo, símbolos e rituais para esculpir uma história que não busca respostas, mas convoca o espectador a sentir. É uma obra urgente porque amplia o imaginário do cinema trans brasileiro, não apenas em termos de representação, mas também na maneira como esse cinema pode existir: livre, lírico e brutal.

SINOPSE

Aos quase 30 anos, Anjo está preso a um vínculo visceral com sua mãe, em uma jornada de amadurecimento marcada por uma maternidade espectral. A Pessoa de Balaclava surge como um reflexo projetivo de sua dor e desejo, enquanto símbolos religiosos e rituais de sacrifício atravessam sua existência. A suspensão corporal transforma a carne em oferenda, num limiar entre redenção e ferida aberta. Com um elenco inteiramente trans, Feiura Comovente é um filme-poesia sobre fé, cicatrizes e a beleza do que não pode ser salvo.

FICHA TÉCNICA 

Direção & Roteiro
Ultra Martini

Elenco
Ultra Martini
Pê Moreira
Georgia Vitrilis
Gustavo Oliveira

Produção Executiva
Laryssa Manabe
Luiza Perito
Ultra Martini
Pê Moreira 
Direção de Produção
Laryssa Manabe
Assistente de Direção
Luiza Perito

Assistentes de Produção
Thomas Matera
Thiago Borelli

Marcelo Barboza

Fotografia
Thomas Mehler 

Operadores de Câmera
Manuela Baeta
Noam Feller
Bony Conteville 

Luka Toledo

1º Assistente de Câmera e Maquinista
Jorge Lucas
João Pedro Gibran

2º Assistente de Câmera
Duda Massari

3º Assistente de Câmera e Logger
Caio Shimizu

Gaffer
Isa Margotto

Filmagem Projeção

Manuela Beata

Som Direto
Gustavo Alves

Microfonista
Gaby Almeida

Arte
Lali Izuno

Assistentes de Arte
Isabella Fontes
Izadora MarinsAna Bergo

Efeitos Especiais
Lali Izuno

Figurino
Marina Mayara

Assistente de Figurino
Marcelo Barboza

Maquiagem
Laura Adamo

Técnica de Suspensão
Georgia Vitrilis

Montagem & Trilha Original
Ultra Martini

Assistente de Montagem
Gustavo Alves

Mixagem e Desenho de som
Renato Navarro

Foto Still
Marina Mayara

Musicas
El Muchacho de los ojos tristes – Jeanette

Agradecimentos
Jak Violet
Pê Moreira
Freud (?)

VISAO DO DIRETOR

Visão do Diretor – Feiura Comovente

Feiura Comovente é um Corpo-Filme, uma experiência que se constrói a partir do grotesco e do sublime, onde a narrativa se fragmenta e se reinventa, recusando-se a ser compreendida de maneira linear ou convencional. O filme questiona as fronteiras do corpo trans, em sua multiplicidade e transformação, desafiando a percepção do público, não oferecendo uma resposta definitiva, mas explorando as possibilidades que surgem dessa experiência.

O corpo, nesse sentido, é simultaneamente a matéria e a metáfora, o real e o ficcional. Cada cena propõe uma suspensão corporal real, onde o espectador se vê forçado a questionar o que é visível e o que é uma representação construída. Feiura Comovente é performático na medida em que dissolve as fronteiras entre a vida e a arte, entre o ator e o personagem, criando uma experiência metalinguística, onde o público é convidado a se engajar não apenas com a história, mas com os próprios mecanismos de sua construção.

Essa suspensão corporal no filme não é uma fuga da realidade, mas uma forma de confrontá-la. O corpo dos atores, sendo ao mesmo tempo real e encenado, serve como um dispositivo de desestabilização. Ele não é apenas o veículo para a história, mas também a própria história sendo constantemente reescrita e reconstruída dentro do espaço ficcional. Isso cria uma tensão constante entre o que é vivido e o que é interpretado, entre a vida que transborda para a arte e a arte que reflete a vida de uma maneira transgressora.

A maternidade, como símbolo, se inscreve nesse jogo de ambiguidades. Em Feiura Comovente, ela não é uma representação tradicional, mas um campo de fraturas e transformações, onde o amor, o abandono e a violência se misturam de maneira inextricável. Ao invés de buscar uma resolução para os conflitos, o filme mergulha nas complexidades desses laços, explorando o que acontece quando os afetos são desestabilizados pela transição e pela incompletude.

O filme se apropria da maternidade não como um ponto de chegada, mas como um território de insegurança e reconstrução. O vínculo materno é explorado não como algo naturalmente protetor, mas como uma força que pode ser tanto libertadora quanto destrutiva, trazendo à tona as tensões e os paradoxos que permeiam as relações familiares e a experiência de ser trans.Ao mesmo tempo, a metalinguagem do filme nos força a questionar o próprio conceito de “verdade” e “ficção”. As performances não buscam a naturalidade, mas uma expressão visceral que transita entre o que é real e o que é construído. O filme joga com essa incerteza, propondo que a realidade também pode ser performática, e que, talvez, a própria construção de um corpo ou de uma identidade seja um processo constantemente encenado.

Filme: https://vimeo.com/1114708596

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