
AB-REAÇÃO
OUTUBRO 2017
Ficha Técnica:
Criação, texto e direção geral: Ultra Martini
Direção Musical: Pedro Mazzepas e Ultra Martini
Assistência de Direção: Kamala Ramers
Elenco: Nine Ribeiro, Pedro Mazzepas, Lorena Aloli, Anna Marques, Bianca Terraza, Mar Nóbrega, Jazz Vasconcelos, Tícia Ferraz e Ultra Martini
Técnico de Som: Arnold Gules
Direção de Arte e Cenário: Julia Wolff
Produção: Ultra Martini, Tícia Ferraz e Bianca Terraza
Ab-reação é uma peça-show humorística com músicas e textos autorais, idealizada pelo artista multimídia Ultra Martini. Essa obra independente teatral e musical de Brasília apresenta ¡SHUNK!, uma banda de punk vegetariano criada por cinco garotas adolescentes. Cinco personalidades disruptivas e problemáticas que quebram padrões e estereótipos de suas feminilidades. As atrizes-musicistas misturam autobiografia e ficção para compor um discurso potente sobre suas próprias questões e debater o lugar da mulher na cena punk brasileira, utilizando o humor e a música como ferramentas de confronto. Uma dramaturgia única, como uma escarrada no chão, não-linear e completamente livre, onde o caos é método e o riso é um soco na boca.

Desenvolver a quebra dos paradigmas femininos e tratar de saúde mental na adolescência são o nervo exposto desse projeto. É urgente colocar a feminilidade em um lugar real, desconfortável e não romantizado, bem longe das vitrines midiáticas. Ab-reação nasce desse impulso: o de ver mulheres ocupando palcos hostis, pegando o microfone, sendo atrizes, humoristas e musicistas.
De acordo com a pesquisa “Por Elas que Fazem a Música” (UBC, 2017), apenas 14% dos artistas associados são mulheres. “O Brasil se diz o país das cantoras”, afirma a pesquisadora Elisa Eisenlohr, “mas os dados mostram o contrário”. Ab-reação é, portanto, um ato-resposta — uma tomada de som, de corpo e de discurso. Quando meninas assistem a um grupo formado só por mulheres, algo muda: nasce a possibilidade de protagonismo, e os meninos aprendem a vê-las em lugares de destaque.
Essa presença feminina na cena é uma rachadura histórica. A pesquisa da Biblioteca Municipal de Penamacor (2008) aponta que a mulher artista foi, por séculos, invisibilizada, representada, descrita, narrada, mas raramente autora. Ab-reação responde a isso com presença. É idealizada e realizada por mulheres, gerando trabalho, discurso e protagonismo.
O espetáculo também se inscreve na linhagem simbólica do movimento Riot Grrrl, nascido nos Estados Unidos há mais de vinte anos e expandido pelo mundo. Mulheres que tomaram de assalto o punk para falar por si mesmas. O termo “punk”, aqui, é apropriação e reinvenção: musicalmente, o trabalho é híbrido atravessado por rock brasileiro, samba e latinidades, buscando nas raízes uma autenticidade suada, suja e viva.

São cinco adolescentes em cena revelando seus temores, seu ridículo e seu profundo. Um jogo tragicômico que tensiona a representação da juventude e põe à mostra temas pouco ditos: drogas, depressão, abandono, raiva tudo o que o adolescente sente, mas não sabe nomear.
O show mergulha de cabeça nessa urgência. O Ministério Público do Paraná (2019) alerta que o suicídio é a terceira causa de morte na adolescência e que mais de 70% dos jovens com transtornos graves sequer recebem diagnóstico. Invisibilidade é violência. Ab-reação rasga esse silêncio e convida o público à descarga, à sua própria “ab-reação”.
A ideia nasceu da experiência pessoal de Ultra Martini, internado aos 17 anos em uma clínica psiquiátrica após tentativa de suicídio. Da vivência veio o impulso de transformar trauma em som, dor em riso, desespero em performance.
Na psicanálise, ab-reação é o processo de libertar uma emoção reprimida revivendo a experiência que a causou. No palco, é isso que se faz: rir, gritar, tocar, existir para sobreviver.
Ab-reação é terapia coletiva em forma de banda. Um espetáculo onde a catarse é o show, e o palco, um lugar de cura e confronto.
Link Tease: Ab reação Banda Shunk
Link espetáculo na íntegra: ab reação – Banda SHUNK! espetáculo;
Clipping:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2019/03/20/interna_diversao_arte,744036/1-festival-frente-feminina-de-teatro-oferece-espaco-para-mulheres.shtml
http://mapa.cultura.df.gov.br/evento/1523/
https://www.bemmaisbrasilia.com/
Prêmios: Ultra Martini/Bruna Martini – melhor atriz FESTU RJ 2017
Tags: Peça/show, musical, adolescência, punk, mulheres, saúde mental, música, performers, Brasília
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